Quadrilha que trabalhava para major Carvalho é desmantelada pela polícia

Brasil

A Polícia Federal (PF) conseguiu desmantelar uma das maiores quadrilhas de tráfico internacional de drogas do País.

O grupo, que era comandado pelo ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul Sérgio Roberto de Carvalho, 62 anos, foi alvo de 49 mandados de busca e apreensão, 13 mandados de prisão temporária e seis de prisão preventiva em vários estados brasileiros.

Para tanto, duas operações foram desencadeadas ontem. Na operação Catrapo, 28 mandados de busca e apreensão e 13 mandados de prisão temporária, expedidos pela 5ª Seção Judiciária do Mato Grosso, foram cumpridos nos estados de: Mato Grosso, São Paulo, Pará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Amazonas, Paraná, Rondônia e Tocantins.

Segundo a Polícia Federal, as investigações demonstraram que a organização criminosa usava aviões para trazer a cocaína adquirida no Peru e na Bolívia ao Brasil, utilizando Mato Grosso como porta de entrada. A droga, posteriormente, era encaminhada para comercialização na Europa.

A Polícia Federal interceptou duas toneladas de cocaína e identificou R$ 40 milhões em patrimônio durante a apuração.

OUTRA OPERAÇÃO

A segunda operação, nomeada The Fallen, cumpriu 21 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva, expedidos pela Justiça Federal de Pernambuco, nos estados de: Pernambuco, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Bahia.

Nesse caso, as investigações tiveram início em 2020, após a importação suspeita de peças de aeronaves portuguesas por uma empresa de Recife (PE), que as introduziu no Brasil pelo Porto de Itajaí (SC).

Por meio de investigação feita em conjunto entre a Polícia Federal, a Receita Federal e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), foi constatado um esquema de contrabando de peças de aeronaves para o País para a utilização por narcotraficantes em atuação na fronteira.

“Apura-se, ainda, a estratégia de lavagem de dinheiro montada pelo grupo criminoso, que se utilizava de empresas de fachada para movimentar valores no território nacional. Além disso, eram usadas empresas com sede no exterior para viabilizar a compra de aeronaves fora do Brasil, as quais serviam à organização criminosa investigada e também eram cedidas para outros grupos criminosos”, afirmou a PF em nota.

Apesar de Sérgio Roberto de Carvalho ter começado no crime em Mato Grosso do Sul, não houve, desta vez, nenhum mandado cumprido no território estadual.

PRISÃO

Conhecido como Pablo Escobar brasileiro, o ex-major Carvalho foi preso no dia 21 de junho deste ano em Budapeste, na Hungria. Ele estava foragido desde 2016, quando desapareceu de Campo Grande, e em 2018 foi inserido na lista de procurados da Interpol.

Segundo investigações, Carvalho movimentou R$ 2,25 bilhões entre os anos de 2018 e 2020, com exportações de 45 toneladas de cocaína à Europa, de acordo com a Polícia Federal.

O megatraficante foi expulso da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul em março de 2018 e condenado a 15 anos de prisão por tráfico de drogas. Quando foi preso, ele estava com um passaporte mexicano falso e era procurado pelas polícias do Brasil e da Europa. Ainda não há confirmação se o ex-major ficará preso na Europa ou se será extraditado para o Brasil.

A prisão de Carvalho foi realizada após investigações desenvolvidas no âmbito da Operação Enterprise, deflagrada pela Polícia Federal em 2020, que culminou na expedição de mandados de prisão para Carvalho e outros investigados, bem como na apreensão de mais de R$ 500 milhões da organização criminosa da qual ele era líder.

No Brasil, o Porto de Paranaguá (PR) era o preferido da quadrilha de Carvalho para as remessas de drogas para a Europa. No velho continente, os integrantes da organização criminosa escolhiam com maior frequência o Porto de Antuérpia, na Bélgica, e depois o de Roterdã, na Holanda, segundo apontam as investigações.

FICHA EXTENSA

Carvalho entrou para a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul no fim da década de 1980, como comandante do Batalhão Militar de Amambai, área de fronteira do Estado com o Paraguai. Na década de 1990, já estava envolvido com atos ilícitos, como o contrabando de pneus. Anos depois, o ex-major foi pego contrabandeando uísque.

Em 1997, Carvalho já transportava cocaína da Colômbia e da Bolívia até o interior de São Paulo. No mesmo ano, o ex-major foi transferido para a reserva remunerada da Polícia Militar de MS. Porém, no ano seguinte, foi condenado a mais de 15 anos de prisão pelo tráfico de 237 kg de cocaína.

Após um longo processo, que culminou na perda de seu posto e de sua patente, sua aposentadoria foi suspensa em 2010. No entanto, em 2016, ele conseguiu reaver na Justiça o benefício de R$ 9,5 mil mensais.

Três anos depois, foi novamente condenado, desta vez a 15 anos e três meses de prisão, por usar laranjas em empresas de fachada para movimentar R$ 60 milhões. O ex-policial militar também foi condenado, em 2008, a 15 anos de prisão por tráfico de drogas.

NA ESPANHA

Em janeiro deste ano, o ex-major passou a ser investigado na Europa por fraudar um atestado de óbito. A apuração corre na Espanha, e o foco da investigação é o médico Pedro Martín Martos, acusado de ter assinado o documento que alegava a “morte” de Carvalho.

Conforme reportagem do Correio do Estado na época, os dados do médico constavam em um processo de mais de 6 mil páginas, que tramita na Justiça da Espanha, sobre tráfico internacional de drogas, envolvendo Carvalho.

Martos assinou o atestado da morte de Paul Wouter, um dos nomes falsos usados pelo ex-major. No atestado de óbito é mencionado que Paul Wouter seria um cidadão do Suriname, nascido em 16 de dezembro de 1965, com endereço domiciliar em Marbella, na província de Málaga, na Espanha.

O motivo do eventual óbito não consta no documento, apenas o dia da suposta morte – 29 de agosto de 2020 – e a hora em que ela teria ocorrido (às 10h50min). Há, ainda, informações de que o corpo foi cremado em Marbella.

Em 2020, um outro atestado circulou pelos juizados da Europa dizendo que Carvalho havia morrido em decorrência da Covid-19.

CRONOLOGIA

1980 > No fim da década de 1980, Sérgio Roberto de Carvalho ingressou na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul como comandante do Batalhão Militar de Amambai, área de fronteira do Estado com o Paraguai.

1990 > Na década de 1990, o major Carvalho já estava envolvido com ilícitos e contrabando de pneus e foi pego contrabandeando uísque.

1997 > Começou a transportar cocaína da Colômbia e da Bolívia até o interior de São Paulo; por causa disso, foi transferido para a reserva remunerada da Polícia Militar de MS.

1998 > Foi condenado a mais de 15 anos de prisão pelo tráfico de 237 kg de cocaína.

2008 > Foi novamente condenado a 15 anos de prisão por tráfico de drogas.

2016 > Passou a ser considerado foragido pela polícia estadual.

2018 > Entrou para a lista dos mais procurados da Interpol.

2022 > Foi preso em 21 de junho, em Budapeste, na Hungria, com um passaporte falso mexicano.

 

Fonte/créditos:  https://correiodoestado.com.br/

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