Tetê Espíndola volta à Capital e se apresenta com a Orquestra de Câmara do Pantanal

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Na quinta-feira da semana que vem, no dia 25 de agosto, o Teatro Glauce Rocha estende o tapete vermelho para Tetê Espíndola e a Orquestra de Câmara do Pantanal (Ocamp).

Aos 68 anos e dona de uma voz, como revela na entrevista a seguir, que não para de explorar novos intervalos musicais, a cantora volta a se apresentar em Campo Grande depois de sete anos, a convite do Moinho Cultural.

O concerto Acústicas da Natureza é uma celebração dos 123 anos da Capital. Mais do que isso, a comemoração fecha um arco de 40 anos na surpreendente carreira da intérprete que, nos anos oitenta, com “Escrito das Estrelas” (1986), de Arnaldo Black e Carlos Rennó, estrelou até jingle da Petrobras.

Foi em 1982 que a cantora lançou o álbum “Pássaros na Garganta” e fez o concerto “Tetê Acústica”, no Theatro Municipal de São Paulo, uma espécie de Acústico MTV “avant la lettre”, como insinua Black, companheiro de música e vida.

Um dia antes da apresentação do concerto ao público, Tetê e a Ocamp, sempre sob a condução vibrante do maestro Eduardo Martinelli, gravam o mesmo repertório, a portas fechadas, para a produção de um álbum inédito.

Bastante emocionada com o novo projeto, a cantora promete dedilhar a sua craviola e, sim, não deixará de apresentar “Escrito nas Estrelas”, seu maior clássico.

Sete anos sem se apresentar em Campo Grande e a Tetê volta não só com a voz, mas também com a craviola em punho. O que pode dizer sobre a relação com o instrumento?

Tanta coisa aconteceu. Eu tive várias experiências como intérprete nesses anos todos. Então, reparti um pouco o meu lado compositora, que é interligado com a craviola, e fiz muitos trabalhos como intérprete.

Por exemplo, “Anahí”, que foi aquele CD que eu e Alzira E. (irmã da cantora) fizemos ao vivo, que foi gravado em 1998.

A gente passou 20 anos fazendo shows pelo Brasil e pelo exterior; só eu e ela. Era um trabalho de intérprete que envolvia a craviola, então a gente fazia arranjos. Fizemos muitos arranjos tocando só nós duas, craviola e violão.

E em outro momento importante como intérprete, que foi em 2017, montei um trabalho que foi muito legal, pela Caixa Econômica, “A Era dos Festivais”.

Fiz vários lugares no Brasil e eu mantenho esse trabalho até hoje, em que eu conto a história da minha infância e adolescência, com os festivais que marcaram a minha vida, com as figuras, os compositores, as músicas que eu mais amo.

É um show que está muito maduro e eu pretendo também fazer um álbum disso, gravado ao vivo, porque é muito forte, com um trio. Nesse trabalho está envolvido outro irmão meu, que é o Sérgio Espíndola.

Tempos depois, vocês duas convidaram o Ney Matogrosso para um spin-off do “Anahí”.

Mais para frente, eu e Alzira, a gente festejou a maturidade, a idade madura de Anahí, convidando o Ney Matogrosso, batalhamos o selo Sesc e fizemos o “Recuerdos” (2019). Aí eu sou só intérprete, principalmente no show.

No disco, não, eu até toco. O meu trabalho com a craviola teve uma época em que eu só pegava ela para compor.

E a composição para mim é uma coisa muito especial, porque eu não sou daquelas compositoras que falam “agora eu vou compor”.

É uma coisa que pinta conforme o meu estado emocional, o que estou vivendo, se passei por alguma coisa, algum momento importante, algum momento marcante com a natureza, principalmente quando viajo, sempre ouvindo os pássaros e desenvolvendo o embrião melódico, essas coisas que eu faço na craviola.

E a voz, Tetê? Como ela está quatro décadas depois?

Com a voz, nesses 40 anos todos, eu ganhei um lado da minha voz pelo qual eu estava batalhando há muito tempo. E eu sinto que agora está maduro, que é o meu lado contralto. Estou usando a oitava abaixo do meu agudo, esse agudo mais normal com que eu ganhei visibilidade.

Porque, a partir dos 60 anos, a voz, a musculatura toda perde um pouco, também por causa dos hormônios. Então a voz vai ficando mais grave. Para mim, foi tranquilo desenvolver esse lado grave. Continuo fazendo as oitavas.

É uma delícia fazer isso. Estou cantando muito também, desenvolvendo muito quintas em vez de terças. É uma coisa que amadureceu também. E continuo assim, cantando de ouvido.

O que diria da experiência com música clássica? Como lida, por exemplo, com as partituras?

Sobre as partituras, eu fiz um trabalho muito importante, que eu considero um dos melhores discos que eu já fiz, que é o “VozVoixVoice” (2005). Foi feito com o compositor e produtor (francês) Philippe Kadosch.

A gente gravou em Paris e eu passava dez horas por dia gravando, entre preparação de voz e tudo, até estudar as partituras, que eu não sei ler. Eu ouvia a voz olhando a partitura. Desenvolvi um esquema de anotação na minha mente, com a minha voz, olhando a partitura.

Essa coisa básica, que sobe e desce, que é triste e que é alegre, com carinhas, e assim eu fiz. Esse disco tem mais de 100 emissões de vozes. Usei todas as emissões, tudo o que aprendi com a natureza, com os pássaros.

Se sente à vontade com esse padrão erudito de criação musical?

Essa convivência com partitura é uma coisa que venho desenvolvendo com muita vontade de aprender, aprender a ler. Mas a vida leva a gente para vários cantos. Não tenho muito foco nisso. Continuo desenvolvendo realmente o meu foco intuitivo, principalmente de ritmo, sabe?

Acabo decorando os arranjos, sei onde entrar, essas coisas assim. E agora, com a Orquestra de Câmera do Pantanal, estou vivendo esse momento intensamente. Todo mundo lendo partitura e eu sabendo tudo dos arranjos. É muito louco isso.

Também estou muito encantada e animada com o maestro Eduardo Martinelli, com essa pessoa que é pura música, pura história da música.

Ele sabe tudo. É uma pessoa muito cativante e faz a gente entrar no clima da música, dá aporte para eu entrar. Então, tem desafios nesse concerto que realmente estou enfrentando, e com uma coisa toda de fazer ao vivo. Mas vai dar tudo certo.

Poderia falar um pouco sobre o repertório?

Desenvolvi o repertório com a ajuda da minha filha, (a cineasta) Patrícia Black, que é a minha diretora predileta. É muito bom ver uma nova geração falando “mãe, e aquela música?”. Por exemplo, “Curupaco”, que é do (longa-metragem) “Mônica e a Sereia do Rio” (1987).

Então nós pegamos algumas músicas mais antigas e vamos regravar com arranjos novos. O fato de eu ter escolhido os arranjadores, um a um, também foi muito importante. E a escolha do repertório foi pintando naturalmente, as músicas mais importantes da minha trajetória, que está completando 44 anos de carreira.

Carreira, digo a partir de quando eu gravei o meu primeiro LP.

Escolhi algumas músicas inéditas, que eu nunca gravei. E tem uma gotinha de intérprete que eu achei importante.

Cantar uma música de Tom Jobim, que eu amo, que eu sempre quis cantar essa música, o “Passarim”, e é claro que não vai faltar a cerejinha do bolo, né? Uma homenagem minha, um carinho meu com o público, fazendo “Escrito nas Estrelas”, com arranjo do Ruriá Duprat. Está muito bonito.

E o disco, Tetê?

Isso é a gravação do álbum, o espetáculo, o concerto. Agora, o próximo passo, nós vamos ter que batalhar muito nesse Brasil, com toda essa dificuldade com a mudança do objeto. LP, CD, YouTube e imagem. É muita mudança e um novo momento de desafio. Mas primeiro vamos gravar.

 

Fonte/créditos: https://correiodoestado.com.br (MARCOS PIERRY)

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